ENtrevista
eDUARDO DE CASTRO MELLO
O Estádio Mané Garrincha, localizado no centro de Brasília, no DF, foi inaugurado em 1974 e projetado pelo arquiteto brasileiro Ícaro de Castro Mello.
Décadas depois, o complexo esportivo passou por uma reforma para receber jogos da Copa do Mundo de 2014. Desta vez, quem assinou o projeto do estádio foi o filho de Ícaro, Eduardo de Castro Mello.
Confira, abaixo, a entrevista do arquiteto concedida em abril de 2021, por e-mail.
O Preço de uma Copa: Na sua opinião, qual a importância do antigo Estádio Mané Garrincha e do novo Estádio Nacional de Brasília para a história do Distrito Federal?
Eduardo de Castro Mello: O estádio Mané Garrincha, projetado e construído parcialmente, no início dos anos 70, foi concebido para ser um estádio Olímpico com capacidade de publico para 110.000 pessoas, integrando junto aos existentes, Ginásio de Esportes e Conjunto Aquático, o então Centro Esportivo Presidente Médici, posteriormente renomeado como “Ayrton Senna da Silva”.
Foi a primeira instalação destinada aos eventos esportivos e culturais, na época, com grande capacidade de público no DF. Infelizmente, foi construído em apenas 40% de sua capacidade original.
Suas instalações para o atletismo, uma exigência inicial, foram utilizadas por apenas uma ocasião para competição oficial da modalidade, em aproximadamente 40 anos de sua existência.
Neste período, recebeu diversos jogos de futebol das equipes locais, nacionais e internacionais, inclusive com a presença da Seleção Brasileira, com o público lotando suas dependências. O setor cultural da cidade, também foi contemplado com a realização de inúmeros shows de artistas nacionais e estrangeiros, com muito sucesso em todos os eventos ali programados.
Infelizmente, o complexo esportivo não teve ao longo de sua existência um cuidado especial em questões de manutenção física de suas instalações, inclusive no que se refere as modernizações de tecnologia de informações ocorridas em suas 4 décadas de existência e sofreu um processo de abandono por parte de seus gestores, privando a população dele se utilizar em momentos de lazer.
Com relação a sua transformação em Estádio Nacional de Brasília “Mané Garrincha”, para estar apto a atender os requisitos obrigatórios para sediar os jogos do “Campeonato Mundial da FIFA – 2014”, foi possível devolver a cidade um estádio com capacidade mais reduzida em relação ao inicial, ou seja, de 110.000 pessoas para 72.800, projetado em padrões atualizados e equiparados aos mais modernos equipamentos similares em todo o mundo.
Demonstrou, desta forma, a capacidade da arquitetura e engenharia nacionais em três eventos de divulgação mundial, ou sejam, a Copa da Confederações da FIFA em 2013; a Copa do Mundo da FIFA em 2014 e ainda foi uma das sedes das competições de futebol durante a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Além destes importantes eventos esportivos, recebe espetáculos culturais e artísticos, com personalidades de destaque mundial que aceitaram se apresentar em Brasília, em razão das funcionalidades que teriam a disposição de todos de suas equipes técnicas.
Em resumo, entendo que as duas versões do estádio em Brasília, demonstraram e continuam demonstrando ao longo de suas existências sua importância para a vida cultural e de lazer da cidade, cada um analisado no seu período de utilização.
O Preço de uma Copa: Como o projeto de reforma do Estádio Mané Garrincha chegou até o senhor e como foi o processo de criação?
Eduardo de Castro Mello: Nosso escritório é internacionalmente reconhecido por sua atuação no ramo da arquitetura esportiva, e entre seus vários projetos se destaca o Centro Esportivo de Brasília, composto pelo Ginásio Nilson Nelson; Complexo Aquático Claudio Coutinho; e o Estádio Mané Garrincha.
Quando da decisão de Brasília participar da escolha das cidades sedes para a copa fomos convocados pelo Governador do DF com a missão assessorar os órgãos técnicos do DF na busca da solução que garantisse a escolha da cidade como uma das sedes da Copa de 2014.
O Preço de uma Copa: Quais eram os pré-requisitos para o novo estádio? Houve algum pedido especial ou preocupação do governo local além dos apresentados pela FIFA?
Eduardo de Castro Mello: A determinação foi de atender todos os requerimentos e normas FIFA 2010.
O Preço de uma Copa: Como foi feita a definição da capacidade total do estádio para 72 mil pessoas, o que o tornou o segundo maior estádio do Brasil?
Eduardo de Castro Mello: Nosso cliente solicitou que o projeto deveria atender as exigências da FIFA para sediar a abertura e/ou o encerramento da Copa do Mundo de 2014, em razão de estar sediado na capital do país.
O Preço de uma Copa: Caso o estádio não tivesse sido planejado para a Copa das Confederações e Copa do Mundo de 2014 e nem tivesse que cumprir as exigências da FIFA, o que o senhor teria feito de diferente neste projeto?
Eduardo de Castro Mello: O projeto arquitetônico quando executado sem um cliente e um propósito definidos, acaba entrando no campo das hipóteses onde as possibilidades são infinitas e até utópicas algumas vezes.
Cabe aos arquitetos orientar tecnicamente seus clientes para que consigam concretizar suas intenções. Neste caso, o arquiteto tem o poder de orientação ou aconselhamento, porém, a decisão final é do cliente, dono da obra.
O Preço de uma Copa: Dada a sua especialidade em projetos esportivos, como o senhor avalia o processo de gestão e execução das obras do Estádio Nacional?
Eduardo de Castro Mello: Sendo especialistas em projetos esportivos podemos nos manifestar apenas pelas características arquitetônicas do projeto por nós elaborado.
As questões referentes à “gestão e execução” das obras do Estádio Nacional não foram incluídas no escopo de nosso trabalho.
O Preço de uma Copa: Dez anos após o início das obras no estádio e quase oito anos da inauguração, sendo que neste período o MP apontou irregularidades na obra, qual balanço o senhor faz de todo o projeto de reforma?
Eduardo de Castro Mello: Como autor do projeto não tenho dúvidas em afirmar que se trata de um dos melhores exemplos de arquitetura de estádios / arenas, de grande destaque entre as mais modernas instalações esportivas em todo o mundo, tendo sido elogiado pela equipe técnica da FIFA que acompanhou todo o desenvolvimento do projeto arquitetônico até o início das obras.
A execução das obras foi responsabilidade da construtora, contratada pelo nosso cliente. Infelizmente, algumas partes do nosso projeto, principalmente no tocante as áreas externas que envolvem o estádio, até hoje não foram nem mesmo iniciadas.
Décadas depois, o complexo esportivo passou por uma reforma para receber jogos da Copa do Mundo de 2014. Desta vez, quem assinou o projeto do estádio foi o filho de Ícaro, Eduardo de Castro Mello.
Confira, abaixo, a entrevista do arquiteto concedida em abril de 2021, por e-mail.
O Preço de uma Copa: Na sua opinião, qual a importância do antigo Estádio Mané Garrincha e do novo Estádio Nacional de Brasília para a história do Distrito Federal?
Eduardo de Castro Mello: O estádio Mané Garrincha, projetado e construído parcialmente, no início dos anos 70, foi concebido para ser um estádio Olímpico com capacidade de publico para 110.000 pessoas, integrando junto aos existentes, Ginásio de Esportes e Conjunto Aquático, o então Centro Esportivo Presidente Médici, posteriormente renomeado como “Ayrton Senna da Silva”.
Foi a primeira instalação destinada aos eventos esportivos e culturais, na época, com grande capacidade de público no DF. Infelizmente, foi construído em apenas 40% de sua capacidade original.
Suas instalações para o atletismo, uma exigência inicial, foram utilizadas por apenas uma ocasião para competição oficial da modalidade, em aproximadamente 40 anos de sua existência.
Neste período, recebeu diversos jogos de futebol das equipes locais, nacionais e internacionais, inclusive com a presença da Seleção Brasileira, com o público lotando suas dependências. O setor cultural da cidade, também foi contemplado com a realização de inúmeros shows de artistas nacionais e estrangeiros, com muito sucesso em todos os eventos ali programados.
Infelizmente, o complexo esportivo não teve ao longo de sua existência um cuidado especial em questões de manutenção física de suas instalações, inclusive no que se refere as modernizações de tecnologia de informações ocorridas em suas 4 décadas de existência e sofreu um processo de abandono por parte de seus gestores, privando a população dele se utilizar em momentos de lazer.
Com relação a sua transformação em Estádio Nacional de Brasília “Mané Garrincha”, para estar apto a atender os requisitos obrigatórios para sediar os jogos do “Campeonato Mundial da FIFA – 2014”, foi possível devolver a cidade um estádio com capacidade mais reduzida em relação ao inicial, ou seja, de 110.000 pessoas para 72.800, projetado em padrões atualizados e equiparados aos mais modernos equipamentos similares em todo o mundo.
Demonstrou, desta forma, a capacidade da arquitetura e engenharia nacionais em três eventos de divulgação mundial, ou sejam, a Copa da Confederações da FIFA em 2013; a Copa do Mundo da FIFA em 2014 e ainda foi uma das sedes das competições de futebol durante a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Além destes importantes eventos esportivos, recebe espetáculos culturais e artísticos, com personalidades de destaque mundial que aceitaram se apresentar em Brasília, em razão das funcionalidades que teriam a disposição de todos de suas equipes técnicas.
Em resumo, entendo que as duas versões do estádio em Brasília, demonstraram e continuam demonstrando ao longo de suas existências sua importância para a vida cultural e de lazer da cidade, cada um analisado no seu período de utilização.
O Preço de uma Copa: Como o projeto de reforma do Estádio Mané Garrincha chegou até o senhor e como foi o processo de criação?
Eduardo de Castro Mello: Nosso escritório é internacionalmente reconhecido por sua atuação no ramo da arquitetura esportiva, e entre seus vários projetos se destaca o Centro Esportivo de Brasília, composto pelo Ginásio Nilson Nelson; Complexo Aquático Claudio Coutinho; e o Estádio Mané Garrincha.
Quando da decisão de Brasília participar da escolha das cidades sedes para a copa fomos convocados pelo Governador do DF com a missão assessorar os órgãos técnicos do DF na busca da solução que garantisse a escolha da cidade como uma das sedes da Copa de 2014.
O Preço de uma Copa: Quais eram os pré-requisitos para o novo estádio? Houve algum pedido especial ou preocupação do governo local além dos apresentados pela FIFA?
Eduardo de Castro Mello: A determinação foi de atender todos os requerimentos e normas FIFA 2010.
O Preço de uma Copa: Como foi feita a definição da capacidade total do estádio para 72 mil pessoas, o que o tornou o segundo maior estádio do Brasil?
Eduardo de Castro Mello: Nosso cliente solicitou que o projeto deveria atender as exigências da FIFA para sediar a abertura e/ou o encerramento da Copa do Mundo de 2014, em razão de estar sediado na capital do país.
O Preço de uma Copa: Caso o estádio não tivesse sido planejado para a Copa das Confederações e Copa do Mundo de 2014 e nem tivesse que cumprir as exigências da FIFA, o que o senhor teria feito de diferente neste projeto?
Eduardo de Castro Mello: O projeto arquitetônico quando executado sem um cliente e um propósito definidos, acaba entrando no campo das hipóteses onde as possibilidades são infinitas e até utópicas algumas vezes.
Cabe aos arquitetos orientar tecnicamente seus clientes para que consigam concretizar suas intenções. Neste caso, o arquiteto tem o poder de orientação ou aconselhamento, porém, a decisão final é do cliente, dono da obra.
O Preço de uma Copa: Dada a sua especialidade em projetos esportivos, como o senhor avalia o processo de gestão e execução das obras do Estádio Nacional?
Eduardo de Castro Mello: Sendo especialistas em projetos esportivos podemos nos manifestar apenas pelas características arquitetônicas do projeto por nós elaborado.
As questões referentes à “gestão e execução” das obras do Estádio Nacional não foram incluídas no escopo de nosso trabalho.
O Preço de uma Copa: Dez anos após o início das obras no estádio e quase oito anos da inauguração, sendo que neste período o MP apontou irregularidades na obra, qual balanço o senhor faz de todo o projeto de reforma?
Eduardo de Castro Mello: Como autor do projeto não tenho dúvidas em afirmar que se trata de um dos melhores exemplos de arquitetura de estádios / arenas, de grande destaque entre as mais modernas instalações esportivas em todo o mundo, tendo sido elogiado pela equipe técnica da FIFA que acompanhou todo o desenvolvimento do projeto arquitetônico até o início das obras.
A execução das obras foi responsabilidade da construtora, contratada pelo nosso cliente. Infelizmente, algumas partes do nosso projeto, principalmente no tocante as áreas externas que envolvem o estádio, até hoje não foram nem mesmo iniciadas.